quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Entrevista com Luís Celso Junior

Entrevista com Luís Celso Junior, jornalista e administrador do blog http://bardocelso.blogspot.com, feita pela nossa roterista e fotógrafa, Mariana

1. Dentre as artes produzidas em Curitiba, qual a relevância e qual a posição que o cinema ocupa em relação às outras. Especialmente na Internet.

Bem, não há números ou um ranking que possa dar uma resposta dessa em termos objetivos. Seria necessário fazer uma pesquisa nesse sentido. Pela minha observação, acredito que o espaço jornalístico, seja ele nos jornais, internet, rádio ou tv, é mais ou menos proporcional ao número de notícias factuais que a "arte" proporciona. Ou seja, quanto mais produção, mais estréias, mais notícias.
Pensando desta forma, acho que em Curitiba temos em primeiro lugar --falando do que é produzido localmente, claro-- as artes cênicas (considerando o grupo de dança, circo e teatro, principalmente), seguido da música, artes visuais e depois audiovisuais, categoria na qual o cinema está.

O cinema, por ser caro de produzir, é feito em menor escala localmente. Já o teatro sai mais barato.


2. O público conhece tanto o cinema quanto a pintura, a fotografia e a música?


Acho que até mais. Também não posso afirmar com convicção, pois não há pesquisa nesse sentido. Mas creio que o público conheça mais de cinema em geral do que das outras "artes", principalmente dos filmes americanos de entretenimento.
3. O que seu site cobre, porque não existem muitos sites sobre a produção local?

Bem, sou repórter da área de Cultura e Educação na Gazeta do Povo Online e possuo um blog chamado Bar do Celso - cultura, diversão e boemia. Na Gazeta se cobre de tudo, com especial atenção para tudo que é local, quando existe essa produção local. Especialmente na internet, há um grande foco no serviço: dizer o que está acontecendo, onde, quando e do que se trata.

No meu blog, há uma produção mais descolada e informal. Procuro compor textos mais analíticos e opinativos sobre minhas vivências culturais. São resenhas do filme que vi, do livro que li, do cd que ouvi, dos bares e locais onde estive, além de dicas sobre o que acho interessante ver, ler, ouvir, etc. Tudo com um tom de quem bate um papo numa mesa de bar.

Acho que não há tantos veículos especificamente sobre a produção local por uma série de motivos, não sendo possível reduzir a apenas um ou dizer qual é o principal. Talvez porque os veículos grandes cumpram um pouco desse papel, de uma forma superficial sim, mas o suficiente para saber o que está acontecendo. Ou porque, no caso do cinema, a produção é pequena por questões orçamentárias, o que inviabiliza a sobrevivência de veículos de caráter noticioso que trate somente disso. Etc, etc, etc...

4. Qual é o papel da crítica sobre a produção paranaense? qual espaço ela tem e porque ela aparece pouco?

O papel da crítica na produção paranaense é o mesmo que em qualquer outra produção, lançar um olhar crítico (não necessariamente crica!) e aprofundado sobre os produtos culturais.

Porque aparece muito pouco? Por uma série de fatores:

Acontece, de forma generalizada, que o espaço que os textos opinativos (onde se inclui a crítica) têm nos veículos está diminuindo gradativamente há anos, e não é só em Curitiba.

Primeiro que os jornais não têm mais a figura do crítico, que via os filmes e espetáculos e escrevia sobre eles. Pouquíssimos são pagos somente para isso, e a função foi sendo transferida para jornalistas que têm mais conhecimentos em determinadas áreas, com mais leitura, ou que entendem mais de cinema, mas que não têm necessariamente a formação para tal tarefa.

Além disso esse mesmo jornalista, além de fazer resenhas e não críticas aprofundadas, não tem tempo. As redações estão cada vez mais enxutas, com menos pessoal. Daí, acontece que tudo que é menos urgente fica sempre em segundo plano. Não é possível para um jornal deixar de dar matérias factuais sobre o que vai estrear, mas a crítica, a resenha, pode ficar para outra hora, ou nem sair. A prioridade é o factual, pelo menos em veículos com esse perfil. Longe de querer generalizar.

Um outro fator é que, para se fazer uma crítica é necessário ter visto o filme, por exemplo. E nem sempre sobra tempo para isso ou se tem esse benefício antes que do filme estrear, que seria o momento mais adequado para colocar um texto crítico.


5. De que forma as leis de incentivo, as escolas, a TV Educativa e a RPC, entre outros, têm contribuído para o fomento da produção local? A Internet tem mais influência do que os outros veículos?

Calma. Não posso responder por veículos com quais não tenho contato, nem por um grupo inteiro. Tenho ciência de coisas isoladas. Como, por exemplo, o espaço que a RPC TV abriu para a produção de curtas para a televisão que são veiculados na Revista RPC. Além do que, na Gazeta, há uma orientação local muito forte. Sempre que temos ciência de algo paranaense, isso entra na pauta. Acontece que muitas vezes o jornal não é avisado (por meio de releases, etc.) o que dificulta o trabalho. Hoje, os repórteres não têm mais tempo para pesquisar muito, descobrir o que está acontecendo, etc.

Se a internet tem mais influência. Acredito que nem mais, nem menos. Não há nenhum fomento em específico, garantindo exibição, por exemplo, como a RPC TV. Mas na Gazeta do Povo Online temos a mesma orientação sobre a produção local. Sempre entra na pauta.


6. Por que, em geral, as produções paranaenses, principalmente longas, não conseguem uma certa posição de destaque, ou pelo menos divulgação nacional?

Depende do que se entende por posição de destaque. Na minha opinião, pode-se dizer que não ficam conhecidos nacionalmente pelo grande público porque não há dinheiro para grandes projetos nacionais . Os audiovisuais que são exibidos em grandes redes são os que têm dinheiro de produção e para divulgação, e visam lucro. Muito do material produzido aqui não quer lucrar, e sim fazer cinema.

7. Quais os filmes paranaenses que tiveram reconhecimento no cenário nacional? A que se pode atribuir esse reconhecimento?

Acho que a pergunta mais correta é que tipo e de quem é o reconhecimento a que você se refere. Se estiver falando de premiações, por exemplo, lembro que os curtas "Balada do Vampiro", de Estevan Silvera e Beto Carminatti, e "Satori Uso", de Rodrigro Grota, foram premiados em Gramado. São dois filmes de ótima qualidade, e forma premiados em quesitos técnicos.

Se você se refere a bilheteria, bem, que outros filmes regionais você encontra em exibição no cinema? Os poucos, têm produção nacional, normalmente apoiados por grandes empresas de comunicação. É o caso do gaúcho "Saneamento Básico", do Jorge Furtado, uma das poucas produções mais regionais que recebeu esse tipo de reconhecimento. Paranaense, não lembro de nenhum. Talvez o "Mistéryus", o último trabalho da Lala Schineider, obtenha algum destaque nesse sentido.

Reconhecimento da crítica e que marcou história, você tem "Aleluia Gretchen", de Sylvio Back, por exemplo.

8. Que filmes apontaria como os mais representativos da história do cinema paranaense? (Produtores, diretores, atores e toda a equipe).

Olha, é complicado eleger desta forma, ainda mais lembrar de um equipes inteiras, não é mesmo? Além disso não sou especialista. Prefiro fazer um sortido de nomes que me vêm no momento, sem nenhum critério de melhor ou pior.

Acho o o "Aleluia Gretchen", do Sylvio Back, um grande filme. Os filmes de Valência Xavier, que tem uma participação decisiva no cinema paranaense, como diretor e autor de muitos roteiros, além de ser pesquisador e literato, também são ótimos. Fernando Severo é um outro grande nome na direção. Na interpretação temos os globais Guta Stresser e Luis Mello, além de Anderson Faganello e a Lala. Documentários? João Baptista Groff (o pioneiro) e Eduardo Baggio.

9. Quais características do cinema no nosso estado?

Não sei se dá para falar em características marcantes. Essas são coisas que mudam com o tempo, de realizador para realizador, etc. Acho que dá para dizer que grande parte do que foi feito tem como pontos recorrentes o baixo orçamento e a experimentalidade.

10. Qual sua opinião em geral quanto ao cinema paranaense e o que ele precisa para ganhar espaço na mídia e "conquistar" o público?

Minha opinião é que temos que continuar a construção do cinema paranaense. Ele não é uma coisa estática, somos nos que fazemos o que ele é. Temos que investir mais na produção e na exibição, assim como todo o Brasil. Os problemas que temos aqui são os mesmos de outros estados. É uma situação nacional, e deve mudar em todo o país. Talvez falte um olhar global e ações locais.

Ganhar espaço na mídia e conquistar o dito grande público são coisas para filmes que tem esse objetivo. Os filmes experimentais têm seu público também, e não precisam de espaço na mídia. São divulgados no boca-a-boca. Acho complicado falar em generalizações desta forma. O sucesso é obter êxito em seu objetivo. Se um filme pretende atingir apenas determinada faixa de público, e consegue, obteve sucesso. Nem todos os projetos ser grandes Blockbusters.

E, mesmo falando em sucesso comercial, não há fórmula do sucesso. Cada realizador deve criar a sua.

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