segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Entrevista com Wikerson Landim

Esta foi a entrevista feita pela nossa roterista e fotógrafa Mariana com Wikerson Landim da BWP Comunicação, administradora do Portal de Cinema.

1. Dentre as artes produzidas em Curitiba, qual a relevância e qual a posição que o cinema ocupa em relação às outras. Especialmente na Internet.Acredito que a música seja arte mais divulgada e que vem obtendo resultados mais expressivos no cenário nacional. Recentemente a literatura começou a apresentar bons resultados e as artes, com a inauguração do Museu Oscar Niemeyer, também ganharam mais visibilidade. O cinema cuitibano também tem apresentado crescimento, mas seus resultados ainda são muito locais. Há um grande número de cursos voltados para a área - de extensão e universitários - e, se o grande problema era a distribuição nos cinemas, com a internet o acesso a esse material ficou relativamente mais fácil. O número de produções aumentou e, consequentemente, surgiram novas produções de qualidade. No entanto a divulgação e exibição ainda é muito restrita às pessoas que estão no meio, o que faz com que o grande público não tome conhecimento da maior parte da produção local.

2. O público conhece tanto o cinema quanto a pintura, a fotografia e a música?Se fizermos um comparativo em termos de obras, temos quadros, esculturas e composições mais conhecidas do que longas e curtas paranaenses. Em termos de profissionais a comparação também é válida. Apesar de termos diretores relevantes - como Sylvio Back, por exemplo, ou profissionais como Alessandro Laroca, editor de som de Cidade de Deus que realizou todo o trabalho do filme em Curitiba e recebeu prêmios técnicos nos EUA, concorrendo com grandes produções como O Senhor dos Anéis, por exemplo - a visibilidade do que é produzido e de quem produz ainda é restrita.

3. O que seu site cobre, porque não existem muitos sites sobre a produção local?
No Portal de Cinema procuramos trazer de todo um pouco. O destaque maior é para as produções que estão em cartaz nos cinemas, o que dá mais visibilidade para o site e, consequentemente, maior número de acessos. Quanto ao cinema local procuramos divulgar todos os cursos, ações promovidas pela fundação cultural, bem como links para curtas e outras produções locais. O espaço é aberto e gratuito. Acredito que não existam outros sites do gênero justamente pela falta de apoio por parte das empresas privadas. O Portal de Cinema, por exemplo, está há mais de dois anos no ar e nunca recebeu apoio financeiro, apenas apoio em termos de divulgação visibilidade.

4. Qual é o papel da crítica sobre a produção paranaense? qual espaço ela tem e porque ela aparece pouco?Acredito que a proximidade da crítica com os realizadores torne a repercussão de suas obras um tanto quanto paternalista. Valoriza-se sim o que é produzido aqui, mas acabam esquecendo de apontar erros e propor novos caminhos, com medo de que isso desistimule novas produções. Num primeiro momento, como incentivo à produção isso é válido. No entanto em termos de divulgação no cenário nacional isso é prejudicial, uma vez que a crítica de outros estados - em especial RJ, SP e RS - é mais incisiva.

5. De que forma as leis de incentivo, as escolas, a TV Educativa e a RPC, entre outros, têm contribuido para o fomento da produção local? A Internet tem mais influência do que os outros veículos?As leis de incentivo são de fundamental importância. Existem bons editais e uma quantia relativamente interessante destinada a produção local, tanto pela Fundação Cultural de Curitiba, quanto pela Secretaria de Cultura do Estado. Em minha opinião o que falta é uma contrapartida. Um exemplo hipotético: se um filme recebe uma verba de 1 milhão de reais e arrecada 10 milhões de reais esse lucro é todo do produtor. Deveria haver uma obrigatoriedade para que parte desse dinheiro fosse reinvestido em novas produções. O resultado é que as verbas acabam ficando restritas às mãos de grandes produtoras, inibindo as pequenas a apresentar novos trabalhos. A RPC, timidamente, começa a exibir algum tipo de produção local. Mas ainda é muito pouco se comparado ao que poderia fazer. Já a TV Educativa apresenta bons documentários e produções locais de longa data e permanece como referência nessa área. A internet poderia proporcionar muito mais do que faz atualmente. A idéia do Portal é justamente vir a centralizar a exibição desse tipo de produção para o grande público.

6. Por que, em geral, as produções paranaenses, principalmente longas, não conseguem uma certa posição de destaque, ou pelo menos divulgação nacional?Principalmente pela falta de apoio de um circuito exibidor e de distribuidoras com peso no cenário nacional. Esse não é um problema exclusivo do cinema paranaense. Com exceção de SP, RJ e RS, todos os demais estados estão em situações semelhantes. Em Curitiba, apenas a Cinemateca, o Cine Luz e o Unibanco Arteplex, por exemplo, exibem periodicamente filmes locais.
7. Quais os filmes paranaenses que tiveram reconhecimento no cenário nacional? A que se pode atribuir esse reconhecimento?
Nas décadas de 70 e 80 os filmes de Sylvio Back (diretor paranaense atualmente morando no RJ), como Aleluia Gretchen e A Guerra dos Pelados. Mais recentemente, o filme Onde Os Poetas Morrem Primeiro, dos irmãos Schumann, O Preço da Paz, de Paulo Morelli, e a animação de BRichos, de Paulo Munhoz. Há ainda muitas produções de qualidade em termos de curta metragem premiadas em festivais pelo país, de cineastas como Paulo Munhoz, Geraldo Pioli, Beto Carminatti entre outros.

8. Que filmes apontaria como os mais representativos da história do cinema paranaense? (Produtores, diretores, atores e toda a equipe).Os mesmos que citei na pergunta acima. Além disso reassaltaria alguns outros curtas-metragens premiados em festivais no país. Aldeia, Templo das Musas, ambos de Geraldo Pioli, Pax, de Paulo Munhoz, a obra de Fernando Severo, documentários de Luciano Coelho e Berenice Mendes entre outros.

9. Quais características do cinema no nosso estado?
Temos um cinema preocupado em mostrar as nossas origens, com histórias que remetem à miscelânia de culturas de nosso estado. No entanto muitas vezes, peca pelo excesso pois acaba não abordando histórias universais, o que dificuta a visibilidade por parte daqueles que nasceram em outros estados ou que não possuem as referências da cultura local.


10. Aponte o nome mais significativo para a história do cinema no Paraná (pessoa, instituição, etc.).
É difícil apontar apenas um nome. Mas em termos históricos, Anibal Requião, no início do século passado, um dos pioneiros do cinema paranaense. Sylvio Back, conquistu prestígio com suas obras nas décadas de 70 e 80. E atualmente Alessandro Laroca, editor de som, responsável pelo som em filmes como Cidade de Deus e 2 Filhos de Francisco, e Paulo Munhoz, da animação BRichos, são alguns dos nomes que poderia citar.

11. Qual sua opinião em geral quanto ao cinema paranaense e o que ele precisa para ganhar espeço na mídia e "conquistar" o público?
Antes de tudo acho que as pessoas precisam conhecer mais o que já existe. A televisão durante muitos anos pecou ao se negar a fazer esse papel. Acredito que com a internet cada vez mais pessoas terão acesso a esse material, porém não podemos nos esquecer que a TV ainda é a maior referência de massificação de mídia. É preciso que se faça também uma revisão nas leis de incentivo a cultura para que elas peçam uma contrapartida em percentual de lucro ou mesmo de aplicabilidade social (criação de novos cursos, acesso a equipamento, oficinas de roteiro, etc). E, principalmente, a questão da distribuição de filmes nos grandes cinemas precisa ser revista, para que possa, de alguma forma, privilegiar as produções locais.

3 comentários:

Jorge F. Casagrande disse...

CORREÇÃO: Silvio Back é natural de Blumenau, portanto, é catarinense.

Grupo Web de Comunicação disse...

Interessante a entrevista, aliás seus comentários, como na coluna do baixaki, quando disse sobre A internet e o futebol, também muito bom, como sempre. Como podemos entrar em contato com Wikerson Landim?
Obrigado!

Grupo Web de Comunicação disse...

Nós encontre em gwc@gwc.com.br